Leandro do Prado Ribeiro, pesquisador e entomologista do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf), juntamente com outros pesquisadores e técnicos do Brasil e Estados Unidos, identificaram uma nova praga em pastagens de grama-bermuda em Santa Catarina. Segundo ele, foram observados “surtos populacionais impressionantes” da cigarrinha Metadelphax propinqua (Fieber) (Hemiptera: Delphaciae), uma espécie-praga sugadora associada a diversas espécies de plantas cultivadas.
Essa foi a primeira vez que se identificou no Brasil a associação da praga com cultivares de grama-bermuda, uma das forrageiras mais usadas em Santa Catarina. A descoberta foi relatada em um estudo recentemente publicado na revista Neotropical Entomology.
A praga, encontrada em janeiro e fevereiro de 2023 em áreas de produção de feno de Chapecó e de outros municípios da região Oeste, foi analisada inicialmente no Laboratório de Entomologia da Epagri/Cepaf. Posteriormente foram conduzidas análises morfológicas e moleculares adicionais, que confirmaram a identificação taxonômica da espécie. As análises tiveram a colaboração dos pesquisadores Fábio Nascimento e Eduardo Gorayeb, do CAV/Udesc e do professor Charles Bartlett, da University of Delaware, dos Estados Unidos.
O pesquisador da Epagri detalha que as plantas infestadas apresentaram clorose foliar, que é um amarelecimento ou perda de coloração decorrente da alimentação das cigarrinhas. Também foi observada redução da taxa de crescimento das plantas, devido à sucção de seiva e injeção de toxinas, bem como à deposição de honeydew, uma secreção açucarada eliminada pelas cigarrinhas no processo de alimentação. Essa secreção pode conduzir ao desenvolvimento de fumagina, um fungo do gênero Capnodium responsável pela redução da área fotossinteticamente ativa da planta. “Contudo, a maior preocupação reside no fato de que essa espécie é reportada como vetora de importantes fitopatógenos para a grama-bermuda e para outras espécies de plantas cultivadas, incluindo o milho”, alerta Leandro.
“Na literatura, M. propinqua é relatada como vetora do Cynodon chlorotic streak virus (CCSV) para a grama-bermuda, e do maize rough dwarf virus (MRDV) e maize yellow striate virus (MYSV) para a cultura do milho”, relata o entomologista. Ele lembra ainda que M. propinqua transmite a doença economicamente mais importante para o milho na Argentina: o Mal de Río Cuarto virus (MRCV). Outro aspecto interessante observado pelos pesquisadores foi que os dados de diversidade filogenética conduzidos no estudo mostraram uma similaridade genética superior a 99% entre as populações coletadas em Santa Catarina e sequências genéticas de amostras da Argentina.
Segundo Leandro, essa é uma espécie pantropical, ou seja, está presente nas regiões tropicais de todos os continentes entre as latitudes 50° norte e 40° sul. Inclui em seu habitat áreas costeiras e paisagens agrícolas do sul e centro da Europa e zonas temperadas e tropicais quentes de todos os continentes: África, Ásia, Austrália, Europa e América do Norte e do Sul.
A cigarrinha M. propinqua é uma espécie polífaga, o que significa que se alimenta de diversas plantas, tipicamente associada a monocotiledôneas, incluindo importantes espécies cultivadas como pastagens, cana-de-açúcar, cevada, milho e arroz. “Por ser tratar de uma espécie nova em cultivos brasileiros, ainda não dispomos de ferramentas para o seu manejo. No entanto o monitoramento das áreas é imprescindível para reconhecermos o problema, a sua distribuição ao longo do território catarinense e também o impacto nos sistemas de produção de forragem aqui no Estado”, salienta o pesquisador.
Informações Agência Catarinense de Notícias