O Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) realizou, nesta terça-feira, dia 22, uma grande operação de combate à criminalidade, com foco no desmantelamento de uma quadrilha especializada em fraudes financeiras contra idosos e pessoas vulneráveis. A operação, batizada de “Entre Lobos”, teve como objetivo desarticular uma organização criminosa que utilizava promessas falsas de ganhos financeiros provenientes de ações judiciais para enganar suas vítimas.
A ação policial foi realizada de forma simultânea em 12 municípios de cinco estados brasileiros: Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Bahia e Alagoas. Durante a operação, foram cumpridos 13 mandados de prisão, sendo oito preventivas e cinco temporárias. Além disso, os agentes cumpriram 35 mandados de busca e apreensão e conseguiram bloquear 16 contas bancárias ligadas a 13 investigados e três empresas. O valor bloqueado nas contas bancárias pode chegar a até R$ 2 milhões por alvo, totalizando um montante significativo. Também foram apreendidos 25 veículos, que podem ter sido adquiridos com os recursos provenientes dos golpes.
A investigação, que teve início há quase um ano, revelou a complexidade e o alcance da organização criminosa. Usando empresas de fachada, como o Instituto de Defesa do Aposentado e Pensionista (IDAP), os criminosos atraíam principalmente idosos e aposentados com promessas de revisão de contratos bancários por meio de ações judiciais. As vítimas eram abordadas com a promessa de que poderiam recuperar valores de dívidas ou benefícios, mas a realidade era bem diferente.
Muitas das vítimas, frequentemente com dificuldade de entender o que estavam assinando, eram induzidas a transferir seus direitos judiciais para as empresas ligadas à quadrilha, recebendo valores bem abaixo do real. Em alguns casos, os golpistas acompanhavam os idosos até cartórios, criando uma falsa aparência de legalidade e formalidade nos contratos assinados. A utilização de documentos assinados online, através do site do IDAP, permitia aos criminosos entrar com ações judiciais em nome das vítimas e manipular os valores recebidos, desviando o dinheiro de maneira fraudulenta.
Os danos financeiros causados às vítimas são alarmantes. Exemplos de vítimas identificadas nas investigações incluem um idoso que tinha direito a R$ 146 mil, mas recebeu apenas R$ 2.500, o que corresponde a apenas 1,71% do valor real. Outra vítima, com um crédito de R$ 117 mil, também recebeu apenas R$ 2.500, representando 2,12% do valor devido. Em um terceiro caso, um idoso que deveria receber R$ 115 mil, recebeu apenas R$ 2.000, ou seja, 1,73% do total.
Até o momento, cerca de 215 vítimas foram formalmente identificadas nas investigações, mas estima-se que o número real de pessoas lesadas em todo o país ultrapasse a marca de mil. A operação “Entre Lobos” visa, portanto, não apenas punir os responsáveis, mas também proteger os cidadãos mais vulneráveis e coibir práticas criminosas que exploram a confiança e a boa-fé das pessoas.
As autoridades continuam investigando o esquema, que já foi desarticulado em parte, e orientam a população a ficar alerta a ofertas suspeitas que envolvam promessas de grandes lucros em ações judiciais.
Golpistas Usam Empresas Falsas para Fraudar Precatórios
O esquema de fraudes investigado pela Operação “Entre Lobos” envolveu duas empresas de fachada, que desempenharam papel crucial na manipulação e desvio de recursos destinados a precatórios. As empresas, Ativa Precatórios e BrasilMais Precatórios, foram responsáveis por receber grandes quantias da Justiça e repassar valores significativamente menores às vítimas, em um golpe que causou enormes prejuízos.
A Ativa Precatórios, localizada em Pinhalzinho (SC), recebeu da Justiça um total de R$ 924 mil, mas repassou apenas R$ 91 mil para as vítimas, correspondendo a apenas 9,91% do valor total. Já a BrasilMais Precatórios, com sede em Fortaleza (CE), obteve mais de R$ 5,1 milhões, mas entregou apenas R$ 503 mil aos lesados, o que representa 9,86% do valor devido.
Em todo o esquema, mais de R$ 6 milhões foram liberados pela Justiça, mas as vítimas receberam menos de 10% dos valores aos quais tinham direito. O desvio dos recursos gerou prejuízos financeiros significativos e expôs as falhas no sistema de proteção às pessoas mais vulneráveis, como aposentados e idosos.
Criminalidade Organizada e Lavagem de Dinheiro
As investigações revelaram que os alvarás judiciais, liberados para o pagamento dos precatórios, eram emitidos em nome do escritório de advocacia ligado ao suposto chefe da quadrilha. Após a liberação dos recursos, o dinheiro era distribuído entre os membros do grupo, com o uso de planilhas detalhadas para controlar lucros, comissões, investimentos e despesas, evidenciando a sofisticação do esquema.
A estrutura organizada da quadrilha permitia que os líderes se mantivessem distantes das vítimas, uma vez que os créditos judiciais estavam registrados em nome de empresas de fachada. Esse método dificultava a identificação do crime e dava uma falsa impressão de legalidade ao golpe, tornando mais difícil para as vítimas ou as autoridades questionarem a origem e a destinação dos valores.
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