O documentário de curta-metragem Magnético, produzido pela Margot Filmes de Chapecó, foi selecionado para a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que ocorre de 21 a 29 de janeiro, um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil. O filme será exibido na Mostra Praça, que por conta do aumento dos casos de Covid em Minas Gerais e em todo o Brasil, será online, no dia 24, às 19h. O filme vai ficar 24 horas disponível no site do festival.
Magnético traz para a telona os relatos dos moradores de Ipuaçu, no oeste de Santa Catarina, sobre os misterioso desenhos que desde 2008 aparecem nas plantações de trigo do município e seus arredores. Recentemente o filme ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri popular na Mostra Do Outro Lado no 28º Festival de Cinema de Vitória. A estreia do curta foi em outubro no I Festival de Cinema Nacional de Chapecó.
Segundo os diretores de Magnético, Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, a proposta do filme não é atestar a veracidade sobre os agroglifos ou investigar quem são os responsáveis pelas formações geográficas nas plantações de trigo, mas sim documentar o que os moradores de Ipuaçu vivenciam e pensam sobre o fato que tem alterado completamente a rotina da cidade. A abordagem do filme é de uma narrativa fantástica, a intenção dos diretores foi dar margem à diferentes interpretações sem ouvir no filme os “especialistas”, cientistas e ufólogos, que discordam uns dos outros e polemizam o tema. A narrativa valoriza as histórias, as vivências, as percepções, as dúvidas e suposições dos moradores e de visitantes. Um olhar voltado ao misticismo, ao mistérios que ronda esse lugar MAGNÉTICO.
IPUAÇU E OS AGROGLIFOS
Desde 2008 o município de Ipuaçu, que fica há 580 quilômetros de Florianópolis, no oeste de Santa Catarina, tem sua rotina de pequena cidade rural modificada entre os meses de outubro e novembro. Um cotidiano que é alterado por um mistério, pela ação silenciosa de seres desconhecidos que deixa círculos nas lavouras de trigo, sem rastros e alimenta uma série de teses conspiratórias, alienígenas e até criminosas.
Como relatam os moradores, anoitece e não tem nada, amanhece e os desenhos estão ali, perfeitos, surgem sem que ninguém perceba qualquer movimentação nas plantações de trigo. Os agroglifos foram encontrados e registrados de 2008 até 2016, sendo que em alguns desses anos chegaram a aparecer três desenhos em lavouras diferentes. Entre 2017 e 2019 não foram identificados sinais no trigo. Em 2020 volta a aparecer um agroglifo em uma lavoura mais próxima à cidade vizinha de Abelardo Luz e em 2021 não foram identificados novos desenhos.
A cidade de Ipuaçu é eminentemente agrícola. Moram na cidade e no interior pouco mais de sete mil habitantes, sendo 60% destes indígenas da etnia kaingang, já que está localizada ali a maior reserva indígena do estado de Santa Catarina. O nome Ipuaçu é indígena, da língua tupi-guarani e significa lajeado grande, uma característica do Rio Chapecó que fica próximo ao município. O lugar era habitado por indígenas, depois chegaram os caboclos e por fim, a partir dos anos 50, italianos, alemães e poloneses. Os imigrantes vindos do Rio Grande do Sul, atraídos pelas colonizadoras, se estabeleceram e passaram a cultivar as terras catarinenses, dedicando-se às plantações de milho, soja, trigo, feijão; à criação de aves e suínos e à produção de leite.
O FILME
Dentro deste contexto foram elencados como personagens deste filme os moradores do município e visitantes. O documentário estabelece relações entre situações do cotidiano da cidade de Ipuaçu e os moradores do local. As gravações foram realizadas em outubro e novembro de 2015, 2016 e 2017, registrando neste período o aparecimento de dois círculos em plantações de trigo. Em 2015 na Comunidade de Vista Alegre e em 2016 próximo à Vila da Cohab. Em 2017 não houve registro de agroglifos, mas fora registradas imagens do Baile realizado na véspera de finados e que gera muita especulação, especialmente juntos aos mais religiosos.
Entre os personagens do filme está o taxista da cidade: Ademar Gonçalves, popularmente conhecido como Portuga. Durante todos esses anos ele já levou muitos visitantes para ver as “marcas” de perto, transita pela reserva indígena e sabe contar como ninguém histórias que ouve “de lá e de cá”. Quem também tem o que contar é o ex-delegado: Dani Motim, durante 15 anos trabalhou na delegacia da cidade e acompanhou o surgimento de alguns agroglifos, tendo chegado bem perto de uma luz intensa, vista por praticamente toda a população.
Figura conhecida quando o assunto é agroglifo em Ipuaçu, Seu Waldemar Visoli dá seu depoimento no documentário. Produtor rural, durante muitos dias viu luzes fortes no céu, esse fenômeno antecedeu o aparecimento de uma das figuras mais bem feitas destes oito anos – em formato de aspiral. Quando amanheceu Seu Visoli abriu a janela do quarto e como conta “avistou aquela forma gigante”, até hoje ninguém explicou como foi parar lá. A imagem deste agroglifo de 2013 está no filme através do registro feito pelos produtores audiovisuais Augusto Zeiser e Diogo Dreyer Teixeira.
Uma das frases mais marcantes e que representa muito bem a proposta narrativa de Magnético foi dita pela Teresinha Maria Rebelatto Piva, a personagem que escreve uma poesia sobre o fenômeno em Ipuaçu e registrou em fotos o primeiro agroglifo para que o neto possa recordar no futuro o que vivenciou quando ainda era bebê. Tere convida para a ciranda dos ets e ressalta: Até que provem o contrário, eles existem!
Informações Margot Filmes